Quando
pensamos em ter uma reportagem sobre aborto provocado na revista, eu já
imaginei que seria complicado, mas sempre foi uma temática que me chamou a
atenção e, dessa forma, resolvi assumir a matéria e me debruçar no assunto.
Primeiro pensei que seria muito difícil encontrar mulheres para relatarem suas
experiências. Não porque elas seriam poucas (já que não são), mas por ser um
assunto extremamente delicado, íntimo e que as envolve juridicamente. O que
aconteceu, porém, foi exatamente o contrário. Quase que em um “piscar de
olhos”, três moças se dispuseram a falar. Cada uma com sua história e os
motivos que as levaram ao ato.
O que mais
me passava pela cabeça durante as entrevistas era o porquê de elas estarem
conversando sobre isso com uma pessoa até então desconhecida (no caso, eu).
Talvez estivessem precisando desabafar com alguém que quisesse ouvir suas
histórias, sem julgamentos e pré-conceitos. Uma situação que me deixou bastante
assustada foi a de que apenas uma das mulheres procurou um hospital depois de
realizar o aborto. As outras duas não quiseram por vergonha e medo.
E EU FIQUEI PENSANDO... E SE TIVESSE SIDO DIFERENTE?
E se elas não estivessem mais aqui para contar suas histórias? Afinal, muitas
mulheres morrem todos os dias por complicações do aborto induzido e acabamos
não sabendo quantas são, quem são e os motivos que as levaram a abortar.
Morrer é
um medo que todas tiveram, mas, mesmo assim, não deixaram de fazer o
procedimento. O que me faz refletir sobre um argumento que muitas pessoas que
são contra o aborto utilizam: será mesmo que o número de abortos iria aumentar
se a prática fosse descriminalizada? Nós sabemos o número exato de abortos
feitos atualmente no país para poder fazer alguma comparação?
Ter
contato com histórias reais só confirmou ainda mais a minha opinião sobre o
assunto. Para mim, não se pode fechar os olhos para essa situação e continuar
criminalizando quem escolhe abortar. Quem não apoia ou não quer fazer: não
faça! Ninguém é obrigado a isso, mas quem quer, irá fazer mesmo sendo ilegal. E
isso só faz com que mais e mais mulheres morram todos os dias ou tenham graves
consequências pelo procedimento clandestino. É preciso refletir mais sobre o
assunto e tratá-lo como um problema de saúde pública, e não ficar discutindo entre os que são
“pró-vida” e os “pró-escolha”, já que, enquanto isso, a prática continua sendo
feita na ilegalidade, de norte a sul do país.
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