Mães
de diferentes tempos, aos 19 e 43 anos, relatam suas experiências
Por Letícia Brito
Uma “amando ser mãe depois dos 40” e
outra “cada dia aprendendo uma coisa diferente”. Milca de Araújo é mãe de
terceira viagem, aos 43 anos. Eduarda de Oliveira acaba de embarcar pela
primeira vez ao dar à luz Ana Cecília, aos 19. Idade e maternidade: para além
da rima, essas palavras carregam relações entre si. Como é, por exemplo, ser
mãe antes dos 20 ou depois dos 40?
Milca é pernambucana, nasceu na
cidade de Caruaru. Carrega na fala um sotaque típico e, nos braços, a Hadassa,
sua terceira filha, que tem três meses de idade. Mudou-se para Minas Gerais
para estudar no Instituto Bíblico e, então, conheceu seu marido. Eles
pretendiam ter filhos no segundo ano de casamento, mas Milca foi diagnosticada
com Síndrome do Ovário Policístico (SOP), aos 28 anos. De acordo com o Ministério da Saúde, esse é um “distúrbio hormonal
que provoca formação de cistos no ovário”. Mulheres com SOP podem ter
dificuldade para engravidar ou infertilidade. “O médico passou um tratamento
para induzir ovulação porque, segundo ele, ovulo só uma vez por ano”, lembra
Milca.
Ela conseguiu ser mãe cinco anos
depois do diagnóstico, aos 33, quando nasceu José Pedro. Depois, retomou o
tratamento e, após quatro anos, veio Eliabe. Ela conta que, depois da segunda
gestação, não fez laqueadura, mas não achou que fosse ter outro filho e não
continuou o tratamento. “Por conta da dificuldade que tive para engravidar, eu
não me via agora fazendo essa cirurgia para não ter mais filhos. Depois de
cinco anos sem tomar anticoncepcional, a surpresa: chega a Hadassa”, revela.
![]() |
Milca foi mãe pela primeira vez aos 33. Dez anos depois, tem
sua terceira filha, Hadassa. (Foto: Letícia Brito)
|
A história de Eduarda é um pouco diferente. Ela mora em Uberlândia e também planejou sua primeira filha, mas isso aconteceu mais cedo que no caso de Milca, aos 19 anos. Ela e o marido, Rodrigo, estavam juntos havia um ano quando decidiram que queriam um filho. Chegou, então, Ana Cecília, que tem dois meses de vida. Apesar de ter planejado, Eduarda preferiu esperar para contar à família quando já estivesse grávida. “Minha mãe aceitou de boa e meu pai também”, relata.
Rodrigo já tinha outra filha quando
começou um relacionamento com Eduarda. Quando os dois saíam juntos com a
criança, as pessoas perguntavam se a
filha era do casal. “A gente dizia: ‘não, só dele; aí resolvemos ter [um filho]
juntos”. Eduarda e Rodrigo já moraram juntos por um ano, mas tiveram um
rompimento. Tempo depois, reataram e tomaram a decisão. “A gente tinha passado
por um momento difícil, tínhamos acabado de voltar. A gente voltou e resolveu
ter um filho”, conta.
“Tu vens chegando pra brincar no meu quintal”
Milca define suas três gravidezes
como “parecidas, muito boas e tranquilas”. Em todas, sofreu descolamento da
placenta, o que representa um risco. Isso exigiu um pouco mais de repouso, mas
“houve todo cuidado médico por conta da minha idade e, graças a Deus, foi tudo
muito bem”, conta.
Já Eduarda sofreu com enjoos durante
a gravidez e acabou tendo anemia porque seu estômago não aceitava nem mesmo a
vitamina receitada pelo médico. Além disso, foi diagnosticada, durante o
pré-natal no posto de saúde, com toxoplasmose e iniciou o tratamento no
Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU).
Enquanto era tratada tomando
remédios em casa, o posto de saúde ficou fechado por três meses por conta de
uma greve dos funcionários, que reivindicavam pagamento de seus salários.
Eduarda descobriu a gravidez já com quase dois meses de gestação e, nesse
período, recebeu atendimento médico. No entanto, logo a greve teve início e ela
só foi atendida novamente quando estava no quinto mês da gravidez. “O normal é
ter mais de nove consultas [em toda a gestação] porque, no final da gravidez,
tem uma por semana. Eu tive seis consultas”, lembra.
Quando as atividades do posto de
saúde voltaram, Eduarda conseguiu ter acesso aos resultados de novos exames que
tinha feito antes da greve. Eles mostraram que ela teve toxoplasmose quatro
meses antes de engravidar, e não durante a gravidez. Eduarda afirma que a
medicação não fez mal para o bebê, mas foi desnecessária. “Fiz o tratamento sem
precisar. Tomei remédio e não precisava”, conta.
Dia a dia, lado a lado
Eduarda diz que o percurso de ser
mãe reserva alguns sustos. “Cólica, por exemplo, dá um desespero na gente.
Agora, já estou sabendo lidar com isso, mas o primeiro dia a gente assusta
porque ela chora bastante e você não sabe o que faz”. Eduarda lembra que ajudou a cuidar de duas
irmãs mais novas e que isso proporcionou alguma experiência. No entanto,
ela diz que, hoje, sendo mãe, há coisas
novas para aprender. “Banho, por exemplo, eu nunca tinha dado, minha mãe me ensinou.
Tudo eu fui aprendendo aos poucos”.
![]() |
Eduarda decidiu que queria ser mãe aos 18. Quando completou 19 anos, deu à luz Ana Cecília. (Foto: Letícia Brito)
|
Já Milca se diz mais segura sendo mãe depois dos 40 anos. “A gente tem mais maturidade nessa idade, um domínio maior. Não sei, talvez seja por causa da experiência, de já ser meu terceiro filho”, explica. Ela diz estar “achando o máximo ser mãe depois dos 40”.
Na época em que foi mãe de seu
primeiro filho, José Pedro, Milca era educadora. “Quando ele fez um ano, eu e
meu marido decidimos que eu ia parar de trabalhar fora e ficar em casa porque o
sonho da gente era ter filho, construir uma família. Então, a gente optou por
isso”. Surgiu, assim, a oportunidade de trabalhar em casa e fazer emborrachados
para decoração de festas infantis. Mas essa rotina traz desafios.“Vejo muita
dificuldade em conciliar trabalho e maternidade, ainda mais agora com a Hadassa
pequena; a prioridade é ela, mas eu tento trabalhar nas horas que dá”, explica.
Já Eduarda estudava no Centro
Estadual de Educação Continuada (Cesec) e trabalhava ao mesmo tempo. Quando
engravidou, aos 18 anos, os estudos foram interrompidos, mas ela pretende
continuar posteriormente. No mês de julho, volta a trabalhar. “Vou deixar a Ana
Cecília em casa porque meu marido trabalha à noite e fica em casa durante o
dia, então ele vai olhar”, planeja.
Palavras para o futuro
Eduarda quer ter mais um filho, mas
no futuro. Por enquanto, pretende se prevenir. “Estou só esperando saírem os
papéis no SUS pra eu colocar o DIU”, planeja. No momento, a prioridade é Ana
Cecília. “A minha vida é só ela agora, vou cuidar dela porque está
pequenininha; pretendo ter outro [filho] bem pra frente”, explica.
Milca não pensa em ser mãe de novo.
“Se eu fosse mais nova, eu ia querer”, conta. Além do motivo psicológico que a
impediu de fazer a cirurgia, por conta da dificuldade que teve de engravidar,
ela aponta um motivo biológico. “Na minha família, as mulheres costumam começar
a menopausa com 46 anos. Então, para que fazer essa cirurgia se, daqui a pouco,
eu entraria na menopausa?”, argumenta.
Nenhum comentário
Postar um comentário