Por Letícia Brito
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Ilustração: Rafael Gomes |
"Velha demais para estar grávida
de novo”. Era como minha mãe se sentia quando, aos 37 anos, engravidou de seu
quarto filho. Todos foram, como ela conta, “escapulidos”: uma maneira bem
mineira de dizer que as gravidezes não foram planejadas. Aos 27, ela era minha
mãe e de mais dois: Marcelo e Andressa. Dez anos depois, viu-se começando do
início, pela quarta vez, essa jornada. Miguel estava vindo ao mundo.
Minha mãe sentiu medo. Sei disso
porque ela disse, mais com os olhos que com palavras. Aprendi que descolamento
de placenta, aliado a pai e mãe com tipos sanguíneos diferentes, podem gerar
muitas preocupações. Minha mãe também sentiu vergonha. Como assim? Bom, ela
ouviu comentários sobre ter muitos filhos e viu os olhares surpresos quando
anunciou a quarta gravidez. Se a insegurança teve início de dentro dela, essas
reações, no mínimo, ajudaram a alimentar o sentimento.
Tenho a impressão de que há sempre pessoas palpitando, julgando e ditando regras
Acredito que está aí uma – talvez não
a única – das explicações para minha mãe ter sentido "vergonha de sair na
rua quando estivesse barriguda”. E não acredito que foi a única a se sentir
assim. “Nova demais”, “velha demais”, “imatura demais”, "solteira
demais", "com filhos demais". São muitos julgamentos prontos e
poucas pessoas prontas a apoiar mães em suas diversas realidades.
Para falar tudo isso sem rastros de
hipocrisia, porém, tenho obrigação de confessar: eu me peguei fazendo
julgamentos, poucos dias atrás, enquanto estava envolvida na produção de uma
das reportagens da Amaterna. Tenho vergonha disso, mas também sinto um baita
alívio de pensar que ninguém nasce pronto. Então, sempre é tempo de parar com
olhares e pensamentos tortos sobre uma mãe que, no seu julgamento, é nova
demais, velha demais, isso ou aquilo demais, ou de menos. Seu julgamento não
ajuda; ele, provavelmente, atrapalha.
Hoje, Miguel, o quarto filho, tem
seis anos e acredito que aquele sentimento já não ocupa espaço nos pensamentos
de minha mãe. Espero que eu esteja certa. Não sou mãe, pelo menos não ainda,
mas venho entrevistando algumas, sou filha de uma que cria quatro filhos e,
então, pude observar bastante e perceber que a trajetória não é fácil. Apoiemos
mais, julguemos menos. Talvez, assim, menos mulheres sintam o que eu sei que
minha mãe sentiu, seja por serem mães, seja por não poderem ou não quererem
ser. Que mulheres não sintam vergonha de ser quem são, onde estão, nas circunstâncias
e escolhas que as compõem.
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